Quase brasileiro
DJ e produtor inglês, Fatboy Slim mistura samba em repertório de duas horas no último domingo, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha
Texto: Daniela PaivaMatéria publicada pelo Jornal Correio Braziliense
Batucada quase não sai, enquanto festa está na ponta da língua. A cada visita ao Brasil, conta Fatboy Slim antes da apresentação que levou cerca de 20 mil pessoas ao estacionamento do Estádio Mané Garrincha no domingo 11/02, ele consegue (ou quase) pronunciar mais duas palavras em português. Se arranha no dialeto, o DJ e produtor inglês é mais enfático na tentativa de agradar o público brasileiro.

Em duas horas, Fatboy sampleou Mas que nada e Samba, vestiu a tradicional camisa da seleção com Brasília escrita nas costas, empunhou a bandeira do país,
distribuiu simpatia e hits pops num repertório que não deu espaço para seus grandes sucessos. Franz Ferdinand, Bob Sinclar, Gorillaz e até Deee Lite na batidíssima Groove is inthe heart passearam por um set que,
por diversas vezes, apenas sugeriu os versos das faixas que elevaram Fatboy Slim ao posto pop - Right here, right now, Praise you e The rockafeller skank. De bermuda, sandália e camisa, Norman Cook (Fatboy Slim) optou por caminho mais despojado, de misturas e quebras, que pode ter agradado quem estava ali pela farra, mas perdeu pontos com fãs mais sedentos pela célebre fase do final dos anos 90 do produtor e DJ. com longa distância.
Brindada com a trégua de um domingo chuvoso, a performance teve início às 21h20. Até então, o público da área vip se refugiava nas tendas e corredores, enquanto só alguns mais animados enfrentaram as gotas à céu aberto. Já a pista pagante não teve tanto problema com o aguaceiro, mas sofreu com a longa distância do palco.Uma das duplas que não se incomodou com a roupa ensopada foi Caroline Araújo da Silva, de 22 anos, e Diego André, de 21.
Com visual
roqueiros, os doisprofessores de inglês
representam o ecletismo do público do DJ. "Curto trance, psytrance e metal", avisa Caroline. "Não vejo problema dele ser pop. Gosto das músicas, a vibe (vibração) é ótima, o som dele contagia, e é isso o que importa", diz a garota, que também conferiu a vinda do DJ à cidade no ano passado. Também sem muitos preconceitos - apenas não freqüentam axé e sertanejo -, as amigas Marcela Montalvão, 19, estudante de arquitetura, e Larissa Araújo, 19, que cursa letras, aguardavam com ansiedade a entrada do DJ. "Justamente por ser pop ele é muito bom", elogia Marcela.
Entre explosões de fogos de artifício e telões que mesclavam desenhos animados e imagens do DJ e de seu público, Fatboy usou todos as
ferramentas de
DJ popstar. Soltou
fumaça
porduas buzinas, iniciou o set com o verso "put your hands up for Brasil" (algo como levante os braços pelo Brasil), dançou ao lado das picapes, largou a mesa de equipamentos e sentou-se na beirada do palco com sorriso largo. Parecia que o menos importante, naquele momento, era a música. Durante entrevista concedida ao Correio minutos antes da performance, Norman reforçou esse clima à vontade em território brasileiro. E relembrou a visita aos participantes do Big Brother, no sábado, quando o DJ incorporou um "brother" e usou a tática da "barreira" para colocar sunga e cair na piscina. "Há câmera por todos os lados. Eu não sei como eles conseguem!", brincou. Quando Fatboy Slim, o DJ das multidões, fez uma apresentação para um público tão reduzido quanto o BBB? "Eu acho que nunca toquei para tão pouca gente. Só quando tinha uma banda (The Housemartins, dos anos 80), que tocamos para três pessoas."Sobre a abertura para a turnê tupiniquim em uma agenda de poucas datas para apresentações ao vivo, Norman reafirmou o carinho pelo país. "O Brasil é o meu lugar predileto. Eu adoro o senso de humor, as mulheres são lindas." Neste ano, o produtor vai se confinar em estúdio para produzir um novo CD. À procura de sonoridades novas para o trabalho, ele prevê apenas uma batida mais controlada. "Não quero esse bum bum bum. Faço isso há quinze anos."
Daniela Paiva é jornalista e repórter de cultura do Jornal Correio Braziliense





