Wednesday, February 14, 2007

Fatboy Slim em Brasília


Quase brasileiro

DJ e produtor inglês, Fatboy Slim mistura samba em repertório de duas horas no último domingo, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha

Texto: Daniela Paiva
Matéria publicada pelo Jornal Correio Braziliense

Batucada quase não sai, enquanto festa está na ponta da língua. A cada visita ao Brasil, conta Fatboy Slim antes da apresentação que levou cerca de 20 mil pessoas ao estacionamento do Estádio Mané Garrincha no domingo 11/02, ele consegue (ou quase) pronunciar mais duas palavras em português. Se arranha no dialeto, o DJ e produtor inglês é mais enfático na tentativa de agradar o público brasileiro.

Em duas horas, Fatboy sampleou Mas que nada e Samba, vestiu a tradicional camisa da seleção com Brasília escrita nas costas, empunhou a bandeira do país, distribuiu simpatia e hits pops num repertório que não deu espaço para seus grandes sucessos. Franz Ferdinand, Bob Sinclar, Gorillaz e até Deee Lite na batidíssima Groove is in
the heart passearam por um set que,
por diversas vezes, apenas sugeriu os versos das faixas que elevaram Fatboy Slim ao posto pop - Right here, right now, Praise you e The rockafeller skank. De bermuda, sandália e camisa, Norman Cook (Fatboy Slim) optou por caminho mais despojado, de misturas e quebras, que pode ter agradado quem estava ali pela farra, mas perdeu pontos com fãs mais sedentos pela célebre fase do final dos anos 90 do produtor e DJ. com longa distância.

Brindada com a trégua de um domingo chuvoso, a performance teve início às 21h20. Até então, o público da área vip se refugiava nas tendas e corredores, enquanto só alguns mais animados enfrentaram as gotas à céu aberto. Já a pista pagante não teve tanto problema com o aguaceiro, mas sofreu com a longa distância do palco.

Uma das duplas que não se incomodou com a roupa ensopada foi Caroline Araújo da Silva, de 22 anos, e Diego André, de 21.
Com visual roqueiros, os dois
professores de inglês
representam o ecletismo do público do DJ. "Curto trance, psytrance e metal", avisa Caroline. "Não vejo problema dele ser pop. Gosto das músicas, a vibe (vibração) é ótima, o som dele contagia, e é isso o que importa", diz a garota, que também conferiu a vinda do DJ à cidade no ano passado. Também sem muitos preconceitos - apenas não freqüentam axé e sertanejo -, as amigas Marcela Montalvão, 19, estudante de arquitetura, e Larissa Araújo, 19, que cursa letras, aguardavam com ansiedade a entrada do DJ. "Justamente por ser pop ele é muito bom", elogia Marcela.

Entre explosões de fogos de artifício e telões que mesclavam desenhos animados e imagens do DJ e de seu público, Fatboy usou todos as
ferramentas de
DJ popstar. Soltou
fumaça por
duas buzinas, iniciou o set com o verso "put your hands up for Brasil" (algo como levante os braços pelo Brasil), dançou ao lado das picapes, largou a mesa de equipamentos e sentou-se na beirada do palco com sorriso largo. Parecia que o menos importante, naquele momento, era a música. Durante entrevista concedida ao Correio minutos antes da performance, Norman reforçou esse clima à vontade em território brasileiro. E relembrou a visita aos participantes do Big Brother, no sábado, quando o DJ incorporou um "brother" e usou a tática da "barreira" para colocar sunga e cair na piscina. "Há câmera por todos os lados. Eu não sei como eles conseguem!", brincou. Quando Fatboy Slim, o DJ das multidões, fez uma apresentação para um público tão reduzido quanto o BBB? "Eu acho que nunca toquei para tão pouca gente. Só quando tinha uma banda (The Housemartins, dos anos 80), que tocamos para três pessoas."Sobre a abertura para a turnê tupiniquim em uma agenda de poucas datas para apresentações ao vivo, Norman reafirmou o carinho pelo país. "O Brasil é o meu lugar predileto. Eu adoro o senso de humor, as mulheres são lindas." Neste ano, o produtor vai se confinar em estúdio para produzir um novo CD. À procura de sonoridades novas para o trabalho, ele prevê apenas uma batida mais controlada. "Não quero esse bum bum bum. Faço isso há quinze anos."

Daniela Paiva é jornalista e repórter de cultura do Jornal Correio Braziliense

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